Dicas do que não dizer para uma pessoa enlutada
De cada 56 mil pessoas assassinadas por ano no Brasil, 53% são jovens. É o que revela a pesquisa realizada pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado, por meio de uma investigação sobre o assassinato de jovens. Esse índice de assassinato de jovens é considerado pela Organização da Nações Unidas (ONU) como um índice epidêmico.
Apesar de acreditarmos que a ordem natural seria que os pais partissem primeiro que seus filhos, não raro vemos o inverso, os filhos partindo antes dos seus pais.
Pode-se mencionar, por exemplo, os pais e familiares que perderam seus filhos no ataque à boate Pulse. A família do atirador também estava chocada com a atitude do rapaz; triste com o que ocorreu o pai apresentou desculpas em nome de sua família pelo ato do filho.
Podemos observar que não importa o motivo da morte de um jovem ou a localidade que tenha ocorrido, lidar com a morte é algo doloroso, triste e difícil para qualquer pessoa.
Muitas vezes a dor da perda pode nos cegar a ponto de imaginar que somente nós sofremos e que ninguém mais está sofrendo por uma perda. Mas cada um sofre à sua maneira, vai depender muito dos recursos emocionais e da forma de compreender a morte. Alguns convivem melhor ou pior, o fato é que não temos como evitar, negar ou fugir da morte.
“A morte faz parte da vida. Todos começamos a morrer exatamente no dia em que nascemos.
A morte, portanto, é uma etapa da nossa existência com a qual temos que conviver”.
(Maria Fernanda Vomero)
Atualmente temos medo de falar da morte, virou um tabu esse tipo de assunto. Por vezes ocultamos das crianças e de nossas conversas cotidianas, mantemos longe a possibilidade de pensar em nossa própria finitude e com isso os rituais fúnebres são cada vez mais rápidos e contemos nossa dor para não deixar transparecer aos outros que ficaram.
Os rituais servem para a compreensão “social” do fenômeno, ajudando a entender o impacto pela perda do outro.
O medo da morte é um sentimento que está em nosso processo de desenvolvimento humano, ele aparece na infância, quanto temos as primeiras experiências de perda, que são:
- Medo do desconhecido;
- Medo da própria morte;
- Medo que nossos pais nos deixe;
- Medo de ficar sozinhos;
- Medo de sofrer.
Na vida compartilhamos com nossos familiares e amigos nossas alegrias e frustrações, as vezes nos isolamos com a falsa ideia de que estamos desamparados no momento do luto. Uma das formas de conviver melhor com a morte é compartilhar essa dor, não se isolar, não achar que está sozinho. As experiências de perdas cotidianas (separação, uma demissão, a morte de um amigo, a notícia de uma doença incurável) nos ajudam a entender que nada dura para sempre e que todos nós somos finitos.
Podemos ver no vídeo abaixo pessoas contando suas experiências do luto e os caminhos que elas encontraram para tornar essa experiência menos dolorosa e encontrar um novo sentido para suas vidas:
Como acolher a família neste momento de dor?
Um costume antigo ou de cidades de interior é que algum parente ou conhecido da família preparava alguns pratos leves para levar à casa da família enlutada.
Você pode reavivar este costume, os familiares que perderam seu ente querido, estão em sofrimento neste momento e muitas coisas passam despercebidas como a alimentação, você pode não ter habilidades culinárias, mas um café ajuda muito quem está em um velório.
Muitas vezes queremos consolar os familiares e amigos, mas não sabemos como ou podemos dizer coisas que acabam piorando a situação. Uma palavra inadequada pode ter um impacto devastador na pessoa que está enlutada, pois ele está vivenciando um momento de extrema fragilidade emocional.
Mas afinal o que não dizer?
- “Pelo menos não está sofrendo”, “Ele (a) está em um lugar melhor”…estes e outros clichês não auxiliam o enlutado.
- “Pelo menos você tem outros filhos”, “Vocês poderão ter outros filhos”. Um filho jamais substitui o outro, a elaboração do luto da perda de um filho é uma das mais difíceis, então imagine como é para os pais ouvir esta frase durante o processo de luto.
- “Você é jovem poderá se casar novamente”… Cuidado com esse tipo de fala! A pessoa enlutada pode interpretar de forma errada, achando que você está dizendo que a pessoa que morreu não era amada e que pode ser substituída.
- “O tempo cura”, “Leva tempo, mas vai passar”. O tempo é importante para elaboração sem dúvidas, mas precisamos compreender que quando uma pessoa perde alguém querido, vai demorar um tempo até que ela volte a sua rotina. Quando o enlutado ouve este tipo de frase, passa a impressão que a dor tem um prazo e precisa ser superada o mais breve possível e não é bem assim, cada pessoa tem seu tempo para compreender o luto e assim que começa a ter esse entendimento o enlutado começa a retomar sua rotina.
- “Você sempre foi uma pessoa tão forte”, “Não chore, ele (a) não ficará feliz com isso onde ele (a) estiver”. Com esse tipo de palavra o enlutado acaba inibindo seus sentimentos, o que pode causar complicações emocionais futuras. O enlutado precisa expressar a sua dor e reconhecer que possui fraquezas.
- “Entendo sua dor”, “Sei o que está sentindo”. Somos seres únicos, cada um tem sua forma de perceber o mundo, cada um tem sua forma de sentir, ao dizer isso ao enlutado ele pode achar que você está menosprezando a dor dele.
- “Do que ele morreu?”, “Nossa que morte trágica?” Imagine que inapropriado perguntar para alguém os detalhes da morte do ente, se a pessoa falar sobre o ocorrido de forma espontânea para desabafar, apenas ouça, não faça perguntas.
Se você tem dificuldade em expressar seus sentimentos e não sabe bem o que dizer, então diga o necessário, como: “Eu sinto muito, meus sentimentos” ou abrace a pessoa enlutada, o importante é que o enlutado possa se sentir acolhido no seu momento de dor.
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Izabel Estevam
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